Naquilo que hoje parece uma outra vida, fui Árbitro de Ténis com um currículo de alguns torneios nacionais e internacionais, de juvenis a veteranos.
Num desses torneios, com miúdos entre os 12 a 14 anos, fiz a chamada de 1 jogo – na prática, é dizer que os Jogadores A e B devem ir para o Campo X e iniciar a sua partida.
Cerca de 5 a 10 minutos após a chamada, percebo que um dos jogadores ainda não estava no campo e andava a rondar a zona do secretariado do torneio.
Quando lhe perguntei o que ele ainda estava ali a fazer, a resposta foi: “Estou à espera do meu pai para me atar os atacadores das sapatilhas”.
Ato contínuo, chega o pai e começa, efetivamente, a executar o dito procedimento para o filho de, no mínimo, 12 anos de idade.
Este episódio foi há cerca de 10 anos (admito que foi o mais extremo de toda a minha experiência enquanto árbitro da modalidade), por isso não me admiro quando leio neste artigo “não só não ficam envergonhados pela presença dos pais, como se sentem mais confortáveis e seguros na sua companhia. E parecem ter menor capacidade de tomar decisões, de lidar com o imprevisto ou a adversidade”.
Em contexto profissional, recentemente, tive clientes que, em processos de recrutamento, me disseram que as respetivas entrevistas eram agendadas com os pais, e não com os próprios candidatos.
Não tenho uma reflexão profundíssima a fazer, nem me atrevo a uma generalização apocalítica de “esta geração está perdida!”.
Faço apenas a constatação de que os “meus” torneios de ténis de há 10 anos já eram uma janela para este futuro.
Fonte: Expresso
“Professores universitários queixam-se de uma interferência cada vez maior de pais na vida académica dos estudantes. Especialistas alertam para a progressiva diminuição da autonomia e aumento da imaturidade dos jovens”
(originalmente publicado no LinkedIn a 18 Nov 2023)