Quando a conversa é sobre Sustentabilidade ou Ambiente, não raras vezes, alguém devolve o argumento “Ah! Mas tu também andas de carro!” ou “Ah! Mas tu também comes carne!”, convencidos de que a revelação da suposta incoerência invalida o mérito da discussão ou põe em causa a integridade do interlocutor.
Numa ocasião, enviei uma mensagem privada a um CEO de uma grande empresa portuguesa após este ter feito uma publicação no LinkedIn na sequência de protestos de ativistas climáticos. Dizia ele que os manifestantes, apesar de defenderem energias renováveis, se tinham deslocado num autocarro a gasóleo.
Não houve quem demorasse a morder o anzol da demagogia e, nos comentários que se seguiram a essa publicação, encontrei referências aos típicos “deviam era viver no tempo das cavernas”, “deviam era andar descalços”, “deviam era tomar banho de água fria”. Os comentários “mais giros” falavam em “Agenda política da ONU”.
O foco da conversa passa a ser o registo das incoerências dos outros em vez de olhar para as nossas próprias acções e responsabilidades – quem nunca?
Desde crianças que nos lembramos o duro que era dizer aos pais que tivemos uma classificação menos boa num qualquer teste. Logo de seguida, vinha o inevitável “O exame era muito difícil!”, “Não demos a matéria que saiu!” ou “A professora tem alguma coisa contra mim!”.
Sim, assumir a responsabilidade dói, e muito.
Assim, em vez de entrar na defensiva e justificar perante terceiros “o que é que EU NÃO ESTOU a fazer”, proponho reposicionar a discussão para “o que é que TU JÁ ESTÁS a fazer?” em prol da Sustentabilidade (e do assumir a responsabilidade pessoal!).
Dou o pontapé de saída às minhas oportunidades de melhoria:
- Não restrinjo o consumo de carne
- Ainda não aderi ao granel
- Demoro muito tempo no banho
Como pontos a favor do ambiente, eu:
- Faço separação de resíduos em casa
- Evito sacos de plásticos de qualquer tipo e, os que uso, são para servir de ecoponto amarelo doméstico
- Ando maioritariamente de transportes públicos
- Sou consciente em relação ao que compro no supermercado, nomeadamente a origem dos produtos (kiwis da Nova Zelândia, não, obrigado)
- Tenho uma disciplina militar no que toca a recusar tarecos e/ou bugigangas
O objetivo não é ser o “ambientalista perfeito” porque o “perfeito” não existe. Da mesma forma, ninguém vai desvalorizar o corredor de fim-de-semana porque ainda não fez uma maratona, ou ninguém vai desvalorizar o adepto de determinado clube só porque não vai ao estádio todas as semanas.
O objetivo é trabalhar para o bem comum, e acreditar que a Sustentabilidade é o caminho para a nossa evolução enquanto Humanidade. Esse objetivo alcança-se com mudanças incrementais, e não com heróis evangelistas ou mártires luditas.
Como alguém disse melhor do que eu: “We don’t need a handful of perfect environmentalists, we need billions of imperfect ones”.